Vamos falar de Pânico Satânico?
21 de junho de 2021Vamos falar de Pânico Satânico? Afinal, quando começou? De onde vem? Pra onde vai?
O que é
O pânico satânico é um fenômeno midiático e social que surgiu nos EUA na década de 1980. Nessa época, o país passou por uma febre de denúncias contra supostos abusos infantis ligados a rituais de adoração ao diabo.
Ampliadas pela mídia, as denúncias ganharam ares conspiratórios, com teorias que diziam que havia um grande plano de dominação mundial em curso, encabeçado pelos adoradores do demônio.
Em todos os casos que foram denunciados e investigados, não foram encontradas evidências de que havia uma conspiração maior por trás do crime, ou mesmo da ligação dos suspeitos com qualquer prática ocultista.
Os casos
Nos anos 70 o ocultismo ascendeu, LaVey publicou a Bíblia satânica e o satanismo foi reconhecido como religião. Nessa época também foi publicado o livro O Exorcista, em 71, que foi para os cinemas em 73 e causou comoção mundial por ser supostamente baseado em uma história real.
Nessa mesma época também aconteceram os massacres de Jonestown e dos seguidores do Charles Manson. Ao mesmo tempo, igrejas evangélicas ganhavam uma explosão de seguidores, e cresciam baseando-se no fundamentalismo cristão.
Em 1980 um livro chamado Michelle Remembers foi lançado, escrito pelo psiquiatra Lawrence Pazder, junto com sua paciente e mais tarde esposa, Michelle Smith.
Ele dizia que havia recuperado as memórias da infância de Michelle por meio de sessões de hipnose, onde ela havia descoberto que tinha feito parte de abusos e rituais satânicos. Esse livro e suas falsas acusações impactaram os EUA por mais de uma década.
Um dos casos mais famosos que seguiu as acusações de abusos satânicos de Michele foi da escola McMartin, onde uma mãe acusou os funcionários de abusarem de seu filho. O que se seguiu foi uma série de erros absurdos baseados em técnicas erradas de coleta de depoimento de crianças.
As crianças diziam que eram levadas por túneis para serem abusadas por pessoas famosas que voavam como bruxas e sacrificavam bebês. Tudo isso nas 4h que passavam na escola. A investigação eventualmente foi abandonada por falta de provas.
Esse foi apenas um dos casos mais famosos. Esse mapa da época mostra os pontos onde “atividades satânicas” aconteciam nos EUA. Era um prato cheio pra mídia, que ganhava dinheiro falando sobre fatos que não existiam.
No final dos anos 80 e começo dos anos 90 isso chegou no Brasil, novamente acompanhando o crescimento das igrejas evangélicas. Mas aqui ele ganhou mais uma faceta: o racismo e colonialismo da demonização de religiões afro.
Casos como dos Meninos Emasculados de Altamira e o Caso Evandro são apenas dois exemplos de como pessoas inocentes foram presas injustamente por conta de preconceito e intolerância religiosa fomentadas pelo pânico satânico.
A demonização de religiões afro acontece há séculos, em uma tentativa de apagamento da cultura negra para a substituição pela cultura eurocêntrica cristã. Símbolos da umbanda e candomblé são retratados como coisa do demônio, e motivo de desgraças e sacrifícios para um mal oculto.
E finalmente chegamos em 2021, mas nada mudou. Veículos de mídia continuam usando as mesmas táticas de propagação de preconceito religioso em busca de ibope. Caso Lázaro fosse evangélico, iriam fotografar uma bíblia em sua casa como motivo de seus crimes?
Pedimos a todos que não compartilhem esse tipo de especulação sensacionalista e infundada. Ela é baseada em racismo, preconceito religioso e colonialismo, e já passou da hora de superarmos esse tipo de abordagem preguiçosa e irresponsável.
Texto do incrível do 1001crimes.com.br